As Profecias de Nostradamus

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Michel de Nostredame (Saint-Rémy-de-Provence, 21 de dezembro de 1503 - Salon-de-Provence, 2 de julho de 1566), latinizado para Nostradamus, foi um apotecário e médico francês da Renascença que praticava a alquimia (como muitos dos médicos do século XVI). Ficou famoso por sua capacidade de vidência. Sua obra mais famosa foi As Profecias, contendo previsões codificadas do futuro.

As Profecias

As Profecias são organizadas em dez "centúrias", cada qual contendo 100 quadras, isto é, previsões de 4 versos (linhas).

Não seguem coerência cronológica e foram escritas combinando francês arcaico, grego, latim e provençal. Além disto, acredita-se que existam anagramas, referências mitológicas e astrológicas, numa linguagem subjetiva que dificulta a compreensão. Alguns estudiosos afirmam que esse foi um recurso utilizado por Nostradamus para se esquivar da Santa Inquisição.

A primeira parte das Centúrias foi publicada em maio de 1555 pela casa Mace Bonhomme, de Lyon. O prefácio assinado por Nostradamus dedicava o livro a César, seu filho recém-nascido. A segunda parte foi publicada apenas em 1557. No entanto, uma terceira e última parte não foi publicada em vida por Nostradamus, apenas existem edições póstumas de origem duvidosa.

Algumas Centúrias

O texto em francês foi extraído do original, que pode ser baixado gratuitamente na Biblioteca Nacional da França (Gallica).[1]

Centúria 10, Quadra 72

Texto original:

L'an mil neuf cens nonante neuf sept mois
Du ciel viendra vn grand Roy deffrayeur
Resusciter le grand Roy d'Angolmois.
Auant apres Mars regner par bon heur.

Tradução:

No ano de mil novecentos e noventa e nove e sete meses
Do céu virá um grande Rei do terror
Ressuscita o grande Rei de Angolmois.
Antes e depois de Marte reinará feliz.

Interpretação:

Em 11/08/1999 ocorreu um eclipse solar total que pôde ser visto em toda a Europa, Norte da África e Ásia. Essa data corresponde a 29/07/1999 no Calendário Juliano, vigente à época de Nostradamus.
Esse evento foi previsto por astrônomos através de cálculos precisos, porém não trouxe terror ou medo algum, mas foi notável. Na Idade Média, apesar de não serem capazes de prever quando ocorreria um eclipse (por desconhecerem os cálculos), os medievais sabiam o que era: a Lua passando em frente ao Sol. Porém, por serem muito religiosos e por ser um evento que lhes era imprevisível, eles tinham a certeza de que Deus estava intervindo em sua criação: um eclipse era um aviso de Deus, um prenúncio de algo ruim a acontecer. Outros relatos descreviam os eclipses com alegorias bíblicas: um dragão engolindo o Sol, a Lua virou sangue etc.
Se "Angolmois" for de fato um anagrama para "mongóis" (como quer Erika Cheetham), então há uma clara menção à Rússia, já que o Império Mongol dominou a Rússia por 250 anos. Em assim sendo, o Rei dos Mongóis é ressuscitado com a eleição de Vladimir Putin como Primeiro-ministro da Rússia em 16/08/1999. Ele vai gradualmente suprimindo a democracia, a liberade de imprensa e de expressão, e subvertendo a república, tornando-se na prática um czar, um rei. Cultivando socialmente valores viris e a dureza na lida com os inimigos.
Apenas dez dias depois de sua eleição como primeiro-ministro, em 26/08/1999, eclode a segunda Guerra da Chechênia, onde guerrilheiros separatistas da Chechênia atacam as forças do Daguestão. Putin chefiou energicamente a operação de larga-escala que expeliu completamente os rebeldes chechenos. O combate selou a confiança dos russos em Putin. Assim, "Mars" ou "Marte" é uma referência à guerra. Putin governa "feliz" antes e depois dessa guerra.

Centúria 8, Quadra 77

Texto original:

L'antechrist trois bien tost annichilez,
Vingt & sept ans sang durera sa guerre.
Les heretiques mortz, captifs, exilez,
Sang corps humain eau rogie gresler terre.

Tradução:

O anticristo os três logo aniquilará,
Vinte e sete anos de sangue durará sua guerra,
Os hereges mortos, cativos, exilados,
Sangue, corpos humanos e água vermelha cobrirão a terra.

Interpretação:

Trata-se das Guerras Mogol–Marata, também chamada de Guera dos 27 anos, Guerras do Decão e de Guerra de Independência Marata, travadas entre os impérios Mogol (islâmico) e Marata (hindu) entre os anos de 1680 e 1707.
O Império Mogol foi um Estado existente entre 1526 e 1857 (com um interregno entre 1540 e 1555) que chegou a dominar quase todo o subcontinente indiano. A designação Mogol foi atribuída no século XIX. Também eram referidos como "Mugal" ou "Mogul", todas as três grafias derivando de "mongol", denotando a ascendência direta de Gengis Khan, pois o fundador do Império Mogol, Badur, descendia dele (através do lendário conquistador Timur, também chamado Tamerlão em português). No entanto, os próprios mogóis preferiam a designação Império Timúrida (de Timur) ou, em persa "Gurkani", que significa "genro", isto é, genro de Gengis Khan. Timur teria inventado descender de Gengis Khan.
O Império Mogol foi um dos muitos que se formaram com a invasão da ásia pelos muçulmanos. Ele era descentralizado, o que significa que muitos dos estados e até cidades eram administrados por seus próprios nobres, que atuavam como mediadores com o imperador, mas raramente se relacionavam com ele. Predominava certa liberalidade religiosa.
Tudo começou com a notícia da doença do imperador, o Xá Jeã (literalmente "O Rei do Mundo" em persa). Esse mesmo Xá foi o construtor do famoso mausoléu Taj Mahal. Em 1657 ele adoeceu de estrangúria, mas deixando claro que queria que seu filho mais velho fosse seu sucessor. Não havia a tradição da primogenitura entre os mogóis, isto é, a passagem sistemática de governo, após a morte de um imperador, para seu filho mais velho. Em vez disso, era costume os filhos derrubarem o pai e os irmãos guerrearem entre si até a morte. Ele tinha quatro filhos que disputavam a sucessão:
  • Dara Shukoh - o filho mais velho, o preferido de Xá Jeã
  • Muhammad Shuja
  • Murad Baksh
  • Aurangzeb
Espalhou-se a falsa notícia da morte do imperador. Como era esperado os quatro irmãos começaram a lutar entre si. E, em 1658, apenas um ano após a notícia da doença do Xá, Aurangzeb já havia derrotado, aprisionado e executado todos os três irmãos, se coroando imperador. Seu pai ficou prisioneiro no palácio até sua morte em 1666, aos cuidados de sua filha Jahanara.
Aurangzeb era um líder militar igualmente temido e respeitado, sendo implacável em seu desejo interminável de conquistar novos territórios. Foi imensamente odiado por seu povo porque desfez a maior parte do trabalho de tolerância religiosa que seus predecessores alcançaram, taxando não-muçulmanos e arrasando templos hindus.
E isso explica o primeiro verso da profecia, pois eliminou rapidamente seus três irmãos e, por ser muçulmano e profundamente intolerante e cruel, foi considerado por Nostradamus um anticristo:
O anticristo os três logo aniquilará
Essa sua política cruel e intolerante de perseguição aos não-muçulmanos (os hindus), gerou resistência. O lendário fundador do Império Marata, Shivaji, era um desses governadores, e começou a se rebelar contra a intolerância ainda na década de 1650. Após muitas batalhas foi nomeado rei em 1674, dando origem ao Império Marata. Porém, até sua morte em 1680, Aurangzeb não havia tentado um ataque direto, pois Shivaji era um líder muito hábil.
Com a morte de Shivaji em 1680 inicia a guerra entre os maratas e os mogóis. Foram muitas batalhas e guerras que encontraram fim em 1707, com a morte de Aurangzeb aos 88 anos de idade. Aurangzeb chegou a lutar contra três sucessores de Shivaji, e enfraqueceu seu império severamente. A economia mogol estava arruinada. A vitória Marata assegurou a liberdade hindu do pesado jugo islâmico.

Uma guerra que durou 27 anos, de 1680-1707:

Vinte e sete anos de sangue durará sua guerra

Aurangzeb perseguiu e matou hindus, mas ao fim da guerra, foram eles próprios, os muçulmanos mogóis, os mortos, cativos e exilados. Lembremos que, para um homem medieval, islâmico é o mesmo que herege:

Os hereges mortos, cativos, exilados

Estima-se que a guerra tenha causado a morte de 5 milhões de pessoas: 3 milhões em combate e 2 milhões de civis pela seca, pragas e fome.

Sangue, corpos humanos e água vermelha cobrirão a terra

Referências

  1. NOSTRADAMUS, M. Michel. Les prophéties. GALLICA: Bibliothèque Nationale de France, 1568. Disponível em: <https://gallica.bnf.fr/ark:/12148/bpt6k792600/f4.item>. Acesso em: 2 mar. 2022.