20011121 - Globo
Jogo de verdade
Não é de hoje que o jogo de RPG é um sucesso entre os jovens. A idéia é simples. Uma boa história para ser representada por personagens interessantes seguindo o roteiro de um livro. Mas na opinião do Ministério Público Federal, o jogo pode sair das raias da imaginação para se tornar uma ameaça na vida real.
A justiça já determinou que os jogos passem a ser classificados por faixa etária a partir de junho. E há quem defenda que sejam simplesmente proibidos no Brasil. Veja na reportagem de Marcelo Torres. O mestre descreve o cenário. O destino dos jogadores está nos dados. Assim é o RPG, um jogo de interpretação que pode durar meses. Os participantes seguem aventuras que vêm descritas em livros. Uma ficção que, na vida real, terá que encarar os tribunais brasileiros.
A pedido do Ministério Público, a justiça determinou que até junho os livros de RPG terão de trazer na capa a classificação etária. E está sendo analisada uma ação civil pública que pede a proibição total da venda de três títulos. São livros que trazem rituais de magia negra, falam em assassinar velhinhas cegas e em envenenar comida de restaurante. A estudante Aline Soares participava da aventura "Vampire" quando foi esfaqueada em outubro do ano passado num cemitério de Ouro Preto. O delegado concluiu que ela foi sacrificada pelo mestre do jogo. O procurador da República que entrou com a ação usa esse caso como exemplo.
“Os detalhes todos do assassinato foram tirados do enredo do jogo”, aponta Fernando Martins, procurador da República/MG. Cristian joga RPG há seis anos. Nunca sentiu impulsos violentos. Acha que a proibição não vai resolver o problema. “Elas vão recorrer tanto à pirataria, no caso uma cópia do livro, uma importação, provavelmente esse jogo não vai deixar de ser jogado pela proibição dele”, pondera Christian Resende, músico. Quatro pessoas foram acusadas pelo assassinato da estudante em Ouro Preto. Mas até agora ninguém foi preso.